domingo, abril 29, 2007

Memórias do Nunca - Parte 10

Espelho

Olho-me, mas perco-me, não sei quem me olha do outro lado, não me reconheço. As transformações foram excessivas. Quem está aí? Quem me olha? Porquê esse olhar intenso? Que me queres... deixa-me ficar neste estado de apatia, deixa-me olhar as mágoas do passado como quem recorda alegrias. Sou pouco mais que aquilo que tu esqueceste e procuro o que tu não encontras. Por isso me sinto perdido e continuo a olhar para o outro lado do espelho que não entendo. Quem és? A dúvida persiste. Só queria conseguir perceber o que se passa aí dentro. Esquece-me para que eu me esqueça. Não suporto o teu olhar. Hoje estás alegre... amanhã triste, mas quando estás como eu? O espelho não engana... mas quem está lá? Hoje não sou eu. Hoje alguém se esqueceu de mim sete palmos abaixo da terra. Merda para ti! Não te suporto mais. Olha o céu como se fosse este o teu último dia de liberdade e faz o que esse do outro lado do espelho tanto deseja. Olvida-te de mim. E afinal quem é real? Aquele que faz ou o que manda? Afinal o que é real? Este ou o outro lado do espelho? Não quero mais saber o que se passa do outro lado. Mas ele persegue-me por onde anda. Ele olha-me como quem não quer viver. A cada esquina ele volta a surgir como que numa renovada angústia perpetrada pelo legado do homem que finjo não existir. Odeio-te! Porque me queres controlar. Tu és eu, mas quem somos nós? Ambos fingimos que o outro não existe. Olho-me fazendo de conta que não estou lá. Odeio-te! Finjo estar como quem não tem a noção da sua existência, no entanto para sempre estás a viver aquilo que não sou.

quinta-feira, abril 26, 2007

Memórias do Nunca - Parte 9

Esquecimento

A obsessão levou-me até ti. Longe de imaginar o meu fim. Inspiro o fumo contaminado e tento esquecer o que me passa pela cabeça. Viver a vida enquanto se tenta esquecê-la não faz sentido, mas quando gostamos verdadeiramente de alguém tornamo-nos capazes das coisas mais incríveis. Viver em esquecimento... a olhar o horizonte, a acreditar ser possível lá chegar. Mas fui o único a ter a miragem que tu criaste. Sempre foste incapaz de dar metade do que te dei. Sempre foste incapaz de ver além de ti. Os teus actos reflectidos começam e acabam numa única pessoa... tu. Pior que isso, não o reconheces. A incapacidade desse reconhecimento torna-se perigosa. Aparenta não ser o que é, mas constantemente faz o que não deve, por pura incapacidade. Sempre tive dificuldade em lidar com incapazes, mas estou loucamente apaixonado por uma. Tudo pela minha curiosidade em relação ao que não encaixa, ao que não faz sentido, ao que está fora do padrão... mas no fundo querendo que funcionem perto do que é normal. m....e....r....d....a.... A droga começa a surtir os seus efeitos. As questões não abandonam a minha mente, mas não têm a mesma importância. Talvez tenham agora o seu devido peso. Simplesmente não interessam. Sempre as mesmas coisas, avançando lentamente no raciocínio. Mais um passo, que tem peso de ouro, mas a escadaria parece interminável. É impossível ver o seu fim. Inspiro mais uma vez o fumo... travo......................................... esqueço-me de mim aqui. Pairo longe. Não sei onde. Queria-te explicar o problema dos teus modos de actuação... mas isso seria um acto altruísta da minha parte por alguém que não o merece. Por isso guardo tudo para mim, despejo-o em textos sem sentido que escrevo sob o efeito do esquecimento... mais uma vez, esquecimento. Sinto que passei vários meses a praticá-lo, mas por incrível que pareça continuo péssimo neste ponto. Concluo que não devo ter as qualidades necessárias ao aluno desta matéria. Talvez devesse ser calmo como aparento ser, talvez devesse ser capaz de parar o turbilhão que constantemente revolve dentro de mim, talvez devesse ser mais egocêntrico, talvez... talvez não devesse escrever tantas vezes “talvez” ou apagar constantemente a palavra “parece” dos meus textos. A nicotina alimenta-me mais uma vez o corpo disposto a terminar a sua viagem. É a mente que me empurra e me impede de parar. Nunca quis uma vida calma e normal. Sempre procurei algo mais. Só que essa vontade não é controlável. Quando me sinto igual sinto-me a morrer. Quero mais, sempre mais. Preciso constantemente de me procurar a mim próprio. De perceber aquilo de que sou capaz. Que o tédio morra, que o padrão desapareça, que o corpo não resista.

sábado, abril 21, 2007

Memórias do Nunca - Parte 8

Mais uma vez....

Mais uma vez estou aqui sentado a olhar para estes textos, quando já os julgava esquecidos. A estabilidade existiu algum tempo e cheguei mesmo a acreditar nela. Preferia que nada existisse no meu isolamento. Talvez o tempo passasse mais facilmente. Se tudo parasse na minha ausência, seria fácil regressar. As pessoas as mesmas, o olhar o mesmo, a alegria contagiante ainda lá estaria. Mas tudo se apaga com o tempo, tudo se dissipa à sua passagem. Queria esquecer-me de ti, queria que te esquecesses de mim, até que estivéssemos juntos outra vez. Foste tu que cometeste o erro de o tentar... o esquecimento. Foi impossível para mim. Incapaz, ciente, estúpido, macho, roto, qual foi o meu problema?... E aqui está ela, mais uma questão que não percebo... Como odeio tudo isto. Gente sem horizontes, que não se apercebe das palas que têm nos olhos. Gente que nunca tentou pensar, com mania que tanta coisa é óbvia, querendo fazer parte do rebanho, achando que se podem diferenciar. Merda para eles! Nunca quis atribuir culpas a outros que não eu, mas às vezes a tarefa parece titânica. Gente que se acha melhor que um animal, mas são iguais a eles porque não reconhecem a merda do animal que está lá dentro. Tenho saudades de te ver... falar contigo... estar contigo... sei do caralho do animal que está cá dentro. Passo a vida a convencê-lo de que a carne tem de se submeter à minha vontade e por vezes resulta, ele esquece-se que tem de submeter todos os sentidos a ti. Sabes disso? Lembras-te do teu animal? Às vezes acho que te esqueces... Mas eu também o faço. Os erros não foram meus, os que cometi, foi por... não... foram meus e apenas meus, mas sempre na busca de algo melhor, para mim, para nós, para alguém que quisesse procurar outros modos de vida. Do que sou capaz? Agora um pouco menos... a minha camada exterior enrijeceu, entra pouco, sai menos ainda, bloqueei parte do que me feria, apenas parte... mas foi o suficiente para perceber melhor os meus limites e perceber que mesmo aqui é possível superá-los. Esquecer, abandonar, olvidar, apagar... sem que tal me afecte. Seria mesmo necessário? Sinto-me mais forte, mas não sei se isso me trará benefícios. Forte para não sentir? Isso não será deixar de viver?... Perder a inocência, deixar de acreditar... só queria voltar a acreditar, mas... já sobrevivi a tanto, porque não mais um pouco. Ganhar mais camadas. Até que me torne impenetrável. Eu e apenas eu. Nesse momento nada disto me interessa, estarei pronto para partir, talvez finalmente encontrar alguma paz, que não seja apatia. Não quero voltar a ser um espectador, já tive anos que me chegassem de filmes sem interesse. A morte está perdida algures no meu desejo pelo Deus que fiz questão de matar, de esquartejar e por fim comer-lhe as entranhas. Seria mais fácil de superar se Ele ainda existisse. A fronteira com o exterior não se tinha adensado da mesma maneira, no entanto quando apenas se pode contar connosco próprios a única solução, para pelo menos sobreviver, é criar defesas. Porque a perda da crença, da confiança, a verdadeira perda da inocência tem um preço muito caro. Um preço que sempre me senti disposto a pagar, apesar de desconhecer o seu valor. Atirei-me de cabeça achando que nunca iria ser de tão alto. Porquê tudo isto, se Deus não existe, se não há nada que nos prove haver um sentido para a vida? Será o ponto alto de uma civilização o seu suicídio? Quando se apercebe que o único motivo da sua existência é dar continuidade à espécie sem nada de mais, que outro caminho faz sentido? As emoções e sensações derivam do animal, para se ser superior a ele, para o dominar ficamos sem nada que nos faça continuar. O animal, mantém-me vivo apesar da falta de Deus. Quando me for impossível viver sem o animal, quero morrer.

quarta-feira, abril 18, 2007

Memórias do Nunca - Parte 7

Estabilidade?

“Tu às vezes passas-te!” disseram-me noutro dia. Não entendi se em reprovação, como um simples comentário ou com uma certa alegria. Sim, em alegria. Porque quando olho intensamente para alguém com um aspecto diferente isso inspira-me admiração, esperança de que a humanidade não esteja perdida. Não quero ser diferente, simplesmente incomoda-me a falta de diferença que existe nos outros. Não percebo como tentam sempre seguir o que já está feito, como dizem sem pensar os que outros pensaram, como agem em rebanho, tudo isto sem muitas vezes o reconhecerem. Talvez o problema seja da raça, desde criança que o género humano é extremamente cruel para o seu próximo quando este tenta ser diferente, mas ao mesmo tempo, eles fazem o que aprendem com os mais velhos. Se sou de algum modo diferente lutei por isso. Tu querias essa diferença, só não percebi se por diferença insuficiente, em excesso ou por não me encaixar num qualquer padrão esperado, as coisas correm desta maneira. Nada desta história faz muito sentido. A única explicação que encontro é estar perdidamente apaixonado por ti, se tal não se passasse tudo seria fácil de resolver. Punha um ponto final em tudo, esquecia-te sem me sentir mal por isso. Tu decerto não eras atingida pelo fim da relação, pelo menos de um modo realmente sério. Por isso nunca farias parte da equação nesse sentido. Só eu interessava. No entanto gosto demasiado de ti para que te consiga largar, mesmo depois de todos as agressões que senti, depois de tudo o que tive de engolir, sem nunca me recordar de ouvir um qualquer pedido de desculpas pela tua falta de percepção de como tudo se passava. Pode ser que todos esses tempos tenham passado, pode ser que tudo seja suavizado a seu tempo e o meu coração deixe de gritar ódio quando recordo palavras que ouvi. A nossa relação não pode de maneira alguma voltar ao que era. Introduzir outras pessoas do modo que o fizeste só altera a relação e de maneira alguma para melhor. O ciúme é produto de inseguranças, mas tinha motivos para me sentir inseguro, a nossa relação estava em suspenso, eu não era único e tu não o usavas, gostavas dele. O ciúme é produto de dependências, mas se não tiver uma qualquer dependência de ti de que serve estar contigo, posso estar com outra pessoa qualquer, ser-me-á indiferente. O ciúme custa a desaparecer. Há uma dose de fé e confiança a depositar em ti e em mim. Voltar ao ponto zero é impossível. Por isso as coisas ficaram diferentes. A aprendizagem mudou-me e com isso alterou o modo como me relaciono contigo. Que merda, cada vez mais me desiludo comigo e com o mundo, não há uma ponta de perfeição onde quer que seja. A perfeição e certezas que procurei na ciência nem aí se encontram. Tentei criar um pequeno mundo à minha volta, mais que uma vez, nunca se segurou. A única peça que se mantém sou eu... infelizmente apenas eu, que como todas as outras tem defeitos. Quem sabe o problema não está aí. Sou uma peça de encaixe difícil, mas não o somos todos? É preciso demasiado esforço da parte dos outros para que tudo corra sem problemas, no entanto reconheço que o excesso de esforço pode quebrar a ligação. Mais uma vez a questão é demasiadamente complexa para que possa ter qualquer certeza. Com certezas, mesmo que irreais, estas dificuldades não existiriam. Mas o pior de tudo é que às vezes passo-me, passo-me e nem dou por isso.

domingo, abril 15, 2007

Memórias do Nunca - Parte 6

De volta à solidão

Mais uma vez a paranóia ataca. Os remédios não abundam... o álcool e o tabaco não passam de remedeios. Nada em que se possa confiar. Até mesmo a escrita não é mais que isso... nada, absolutamente nada que conheça me pode trazer alguma cura. Por isso é necessário partir para o desconhecido. Claro que isso torna a realidade menos fiável, mas se ela não o foi até agora, o que recear? O dia arrasta-se, quero que o tempo passe, enquanto espero respostas. Supostamente virão de longe, de ti... acho que sei o que me vais dizer, o que me vais contar, mas agora não sei até que ponto serão verdade, até que ponto tudo não passa de ilusão. Fiquei marcado, só não sei o quão profundamente, mas creio que durará, só não sei até quando... merda... a procura dos meus limites vai acabar comigo, mais tarde ou mais cedo. Nunca me sinto bem onde estou e isso faz com que procure mais, mas essa procura trama-me sempre. Só espero um dia deixar de não sentir essa necessidade. Talvez aí possa realmente estar bem. Quero parar um pouco, mas sou incapaz... a televisão passa imbecilidades, felizmente, estou incapaz de ouvir gente com a mania que sabe, seja o que for, com ares de superior. Merdas, não passam de merdas. Mais merdas que os outros que se mantêm no silêncio. Do que aqueles que sabem esperar a sua vez e não necessitam de opinar sobre o nada com medo do vazio nas conversas, com medo do silêncio. Incomoda-te? O silêncio? Se isso fosse assim, acho que não querias nada comigo, o que acho não ser verdade. Funcionas à tua maneira e isso dá-me cabo do juízo, mas à tua maneira acho que gostas de mim. Infelizmente acho... já te o ouvi dizer, mais que uma vez, mas... Não sei... Tenho tido dúvidas demais sobre o que é gostar de alguém, amar alguém... seja o que for... ainda mais dúvidas que o normal, por isso me sinto a ser consumido por dentro, por isso não sou capaz de parar de escrever imbecilidades como aqueles que insulto. Não passo de mais um merdas que opina sobre o nada. Por vezes perguntava-me como era possível que alguém tivesse tanto a dizer sobre coisa nenhuma, mas pareço ter descoberto pelo menos como se faz, os motivos de cada um acho que ficam por descobrir. Afinal cada um funciona diferentemente e se não me percebo, como posso perceber os outros. Queria-te aqui ao meu lado... sentir o teu abraço, poder deitar-me junto a ti, sentir que podia descansar sem qualquer preocupação, com a cabeça vazia, esquecendo tudo e todos, reduzir a minha existência ao calor do teu corpo, ao toque da tua mão... nada mais. Respiro fundo... tudo isso está demasiado longe para que o possa sentir, tudo isso está demasiado distante para que o possa sequer imaginar com um mínimo de consistência. Quem sabe, um dia eu o possa sentir repetidamente, sem ansiar por esse momento. Tudo parece eterno em momentos como este... noutras alturas isso teria sido uma bênção, agora não o é. O momento é sufocante, não o desejo prolongar. A sanidade mantém-se, concentrando-me na ideia da passagem do tempo, na ideia de mudança que acompanha esse movimento. Um dia tudo será diferente... é só isso que desejo.

quinta-feira, abril 12, 2007

Memórias do Nunca - Parte 5

Despedida

Foste mais uma vez para longe. Sem mim. Pelo que dizes algo vai mudar, mas não sei bem o quê... tenho demasiadas dúvidas comigo para que isso me ponha em paz. Acho que tu própria ainda vais procurar a mudança de que falas. Deixaste um pouco de sanidade para trás, mas deve ser de pouca dura. Olho para os casais que passam por mim de modo diferente. É a segunda vez que me acontece. A primeira foi depois do meu primeiro beijo. Criei uma empatia pelos outros que não existia. Provavelmente foi o facto de compreender um pouco do que sentem. Claro que funciona de maneira diferente para cada pessoa, mas a procura de ligação deve estar algures em todos. Serão questões puramente orgânicas? O que é passageiro volatiliza-se sem deixar marcas. Procuro mais do que isso. Não que não tenha a sua importância, mas... não me preenche, o vazio continua lá. A dependência não é saciada. E que dependência... não a queria, não a desejo, mas faz parte de mim, do animal que cresceu comigo. Único, só e forte é uma realidade demasiado distante para que me lembre exactamente dela. Esqueci-a por ti, mas não o queres. Só agora o descobri... infelizmente tarde demais. Não consigo voltar para trás, por isso só podes ficar com o que sobrou, que também ajudaste a criar. Não o fiz sozinho, nunca o quis... mas agora não é altura para arrependimentos. Palavra que há muito saiu do meu vocabulário. Arrependimento... de vir para esta terra? Tão afastado de ti? Em breves momentos de falta de sanidade senti isso, mas já o esqueci. Creio que era o arrependimento do fim da ignorância. O conhecimento certamente traz infelicidade e, por vezes, como gostaria de ser ignorante. Especialmente à distância que estou de ti, mas mais uma vez é tarde demais... agora a verdade tem de prevalecer até ao fim. Queres o mesmo de mim?

segunda-feira, abril 09, 2007

Memórias do Nunca - Parte 4

Contigo

Estou deitado ao teu lado. Vejo-te dormir e pergunto-me que sentido encontro em tudo isto. Sinto-me quase em paz. Mas essa sensação já é tão distante que não a consigo perceber ou ter a certeza dela. Onde estás tu? Aqui comigo ou longe noutro qualquer lugar sem que nada disto tenha qualquer importância? Que importância lhe dás? Só queria ver-te, no entanto... Até que ponto era importante continuar? Respiro fundo e continuo a observar-te. Dormes como se nada se passasse. Eu... eu sinto-me mais uma vez só no meu distante e confuso mundo, onde as dúvidas abundam. Penso o que teria sucedido se tivesse mantido relações passadas, apesar disso ser uma coisa que de modo algum desejava. Aproximo-me do teu corpo, cheiro o teu cabelo... és linda... nos meus olhos formam-se lágrimas. Não sei sequer dar resposta ao motivo... mais uma vez. Estou triste? Sinto que não me pertences? Mas nunca quis alguém meu. Que merda... não foi essa liberdade que sempre pedi? Agora não consigo lidar com ela. Quero-te de volta, apenas para mim. Egoísmo?... Quero sentir-te minha. Quero algo de especial que não consigo criar em mim, como to posso exigir? Só queria... não sei... algo que me deixasse em paz. Não numa espécie de simulacro. Deslizo a minha mão pelo teu corpo e viras-te para mim. Abraças-me ainda a dormir. Sou eu quem abraças? Ou é apenas um reflexo? Amo-te... amo-te sem que tu o entendas, sem que o diga sob pena de ser castigado com o afastamento. Preciso de mim, preciso de ti, preciso de uma união que parece impossível. Este momento é precioso e sei-o demasiado bem para o poder gozar na sua plenitude. Beijo-te a testa e tu retribuis-me com um beijo na boca. Sinto o teu toque no meu sexo e o teu beijo a tornar-se mais intenso. Quem és tu? Diz-me... por favor... responde-me... o meu pénis fica duro e beijo-te com desejo. Sou apenas mais um? Até onde devo aguentar tudo isto? Penetro-te sem preservativo, possivelmente num acto animal de marcação de território. Quero-te para mim... apenas para mim. Não consigo lidar com dúvidas constantes sobre o que queres de mim e para ti. Beijo-te como se fosse a última vez que o fizesse... era isto que não queria que acontecesse. Queria... queria... mas é impossível. Tenho que esperar? Isso leva a algum lado? Serve algum propósito? Vens para cima de mim e esqueço as minhas dúvidas. Embrenho-me no acto. Só penso em me vir. A tua vagina introduz e retira o meu pénis de dentro de ti numa cadência lenta que torna o movimento hipnotizante. Neste momento o universo traduz-se em ti... apenas em ti e no balançar da tua anca. Continua apenas mais um pouco... estou à beira do orgasmo. Percebes e pareces excitar-te com isso. Manténs o movimento e venho-me dentro de ti. Continuas mais um pouco e vens-te também. Abraças-me e sinto-te comigo. Aqui. Por breves instantes sinto-me em paz.

sexta-feira, abril 06, 2007

Memórias do Nunca - Parte 3

Outra vez

Estive contigo mais uma vez, mas já me parece distante. Continua a vontade de vingança... ou talvez da procura de um lugar melhor. O corpo pode estar cansado de tanta luta, simplesmente pode desejar repousar. Mas ainda não é altura. Não será altura enquanto tu não o quiseres. Tu... só tu... merda para isto tudo... sinto-me obcecado e parece-me impossível alterar esse estado. Quero esquecer-te, só que ao mesmo tempo não quero desistir da batalha. Aquela que travo comigo e a outra que travo contigo. Na primeira são autorizadas agressões, nem que seja pela simples vontade de libertar algumas energias, de me anestesiar com dor, seja de que tipo for. Na segunda a agressão directa determina o perdedor. Como é possível ganhar nessa situação? Engolir uma coisa atrás de outra sem o demonstrar? Tentei vários métodos, a honestidade sem dúvida que não resulta. Nem eu nem tu parecemos capazes de lidar com isso. Tento o outro método, a mentira. Por isso seguro a sua mão, começando com a desculpa do frio. Depois fazendo festas suaves, olhando-a nos olhos com um sorriso suave. Mesmo nessa altura não paro de pensar em ti, em como estou a fazer isto por nós, para que seja possível continuar. Poderá não ser vingança ou a procura de um lugar de repouso, simplesmente uma táctica de combate. Quero seguir contigo, ela pode ser uma solução. To make things even. Talvez seja isso... "talvez", como me irritam as minhas próprias dúvidas acerca de tudo e mais alguma coisa. Sem elas a vida era mais fácil... mas quem sabe? Certamente eu não... Ela toca-me na cara e desejo que se demore. Aqui sinto segurança, sinto um alívio da tensão que desde há muito vive comigo. Quero isto por mais tempo? Não... quero-te a ti. Só a ti. Esse é o problema. O animal quer-te e não tenho maneira de o fazer mudar de opinião. PORRA! MERDA! CARALHO! Puta... puta... não queria ter de estar aqui... Passo a mão pelo seu cabelo. Quero sentir os seus lábios, esquecer que existes, aliviar a dor. E como estou cansado desta dor, da ânsia de não saber. Encosto-me e bebo dois goles de cerveja, hoje não fumo, faz parte da estratégia. Não quero demonstrar fraquezas. Dependências classificam como tal e como as tenho... Só agora estás a descobrir isso, nunca me lembro de as ter escondido, no entanto nunca me devo ter exposto demasiado. Também nunca passei por isto. Eu próprio estou a aprender muito sobre mim, mais do que queria. Sinto como se a minha vida fosse uma sucessão de descobertas das minhas limitações físicas e mentais. Liberdades atrás de liberdades foram perdidas, ou melhor as ilusões de liberdade. As limitações sempre lá estiveram, simplesmente desconhecia-as. A ignorância dá felicidade. Nunca acreditei tanto na expressão, no entanto agora desejo a ignorância se essa me trouxer felicidade, mas tu não ma queres dar... porquê? Sinto-me a ceder. Era um pequeno favor que me fazias, no entanto não o posso pedir sob o risco de não acreditar nas tuas palavras, tenho que esperar que tenhas a iniciativa. A solução está como algo óbvio à minha frente, mas não a posso dar. Apenas era necessária uma pequena actuação da tua parte, mas aparentemente recusas-te. Merda para ti... Inclino-me para frente, esqueço tudo e por uns segundos sinto a pureza do seu beijo. Ela gosta de mim... Merda… Ela gosta de mim. Só agora me apercebo do mais óbvio. A minha obsessão fez com que me esquecesse dela. A culpa não é nada mais que minha. Como me odeio por isto. You really make me hate myself... Amanhã parto para outro sítio e tudo fica como que esquecido por uma deslocação geográfica. Não vai ser a primeira vez que o esquecimento se envolve comigo, mas pode ser que desta para meu bem. Uma questão de egoísmo? Mais uma vez as dúvidas impedem-me de responder.

segunda-feira, abril 02, 2007

Memórias do Nunca - Parte 2

Começo

As horas passam e apenas penso em ti. Sinto o bafo a álcool e tabaco que ele emana... esqueço que existe e desejo-te ali. Estou só, mais que nunca, sem base, sem querer regressar ao sítio de onde parti, esta viagem é sem retorno, é absolutamente impossível voltar atrás. O caminho não se distingue, mas isso não me interessa minimamente. Queria-te aqui, mas apenas existe ele... alguém, não interessa quem. As lágrimas escorrem-me pela face, como te odeio... quero-te aqui... beijo-te, a minha mão desliza pelo teu corpo. Esqueço o bafo que ele tem e deixo-me cair em ti. Simplesmente quero um corpo perto de mim. Alguém que por breves momentos me faça esquecer a vida. Ir mais além, sentir a experiência... não é isso... ele és tu, o que eu preciso. A roupa cai-me do corpo e seguras-me nos teus braços. Só queria que fosses tu... só, absolutamente só... Foram horas a prolongar a noite, a tentar esquecer a marca de um ferro em brasa no corpo. Não consigo, mas tal não me impede de repetir o ensaio vezes sem conta. Deus? Estás aí? Esqueci-me de ti. Esqueceste-te de mim? Caralho para as tuas criações... Sinto-te dentro de mim, estás quente, nunca tínhamos feito isto. Quero-te aqui... parece-me obsessão. Tenho quase a certeza que é. Agarra-me, para que saias da minha mente. Porra... Como odeio a tua ausência. Vem-te... Vem-te... quero sentir o teu calor na minha pele. Ela, ele para que interessa isso, simplesmente o quero comigo. Não quero dormir e esperar que venha um novo dia, para quê? Um igual ao outro... Que merda! MERDA! Odeio-o! Afasta-te de mim! Chega! Não te quero aqui... desaparece com o meu ódio. Foi-se embora com o meu desejo. Porquê? Porque não o quero. Porque nunca o quis. Só te queria a ti? A monogamia instalou-se de um modo subtil que nunca desejei... Só queria um momento de esquecimento, nada mais. Ainda sinto o gosto do esperma dele nos meus lábios. Queria que fosse o meu nos teus. Mas por instantes o corpo dele era o teu, o cabelo dele lembrava o teu e os lábios nunca poderiam ser os dele... é só mais um dia aqui, não vou forçar a natureza, mas desejo que ela se mexa, estou farto de estar à espera do inevitável. Só mais um dia de dor e tormento… a aprender? Já não sei o que digo, o que penso, como ajo, a minha mente é uma espiral de pensamentos, contigo como centro. Estou esquecido de quem sou ou do que fui. Nada me prende, nada é meu, ninguém me segue, estou só na terra de ninguém. Egoísmo para além das medidas ter-me-ia feito bem. A noite segue sem paragens e o dia vem logo atrás. Passei a noite em claro, mas isso não impediu o sol de subir na continuação do seu ciclo. Tenho que agir? Mas eu só queria esquecer... merda... Quem era ele? Nem lhe sei o nome... E isso interessa? Eras tu, mais ninguém, e até de ti me esqueci. Memórias do que nunca aconteceu vagueiam por mim com a primeira luz que me bate na cara. Só queria que nada fosse como era, mas talvez a mudança tenha sido demais... tenho que esperar, aguentar... hoje é outro dia e nenhum pode ser igual, sou eu que os mudo sem sequer o perceber... Ainda estás aí? Mandei-te embora sem querer. Queria estar mais um pouco contigo, mas ele saiu e não vai voltar. Tenho que te procurar noutro lugar. Já não existes ali. Ele tomou conta do corpo que me alimentou. A nicotina dá-me sustento pela manhã, para quê mais se isto basta? Não quero carne. Detesto a que me envolve os ossos, odeio o meu corpo, odeio estar limitado por um estúpido pedaço de merda que me impede de ser livre... liberdade, que tenho e com a qual não sei o que fazer, já não a desejo assim tanto. Abdiquei dela sem o desejar, por ti, o animal pediu-me e como podia recusar, ele é mais do que eu... continua a ganhar...