quinta-feira, dezembro 18, 2008

Futebol!?

- Gooooooolo! – Gritou Nélio, eufórico.


Era já há muito o melhor marcador da sua equipa, mas vivia cada golo como se fosse único. Os seus colegas rodearam-no aos pulos e encontrões, dando-lhe amigáveis tapas nas costas e cabeça. O resultado virara a seu favor.


O jogo prosseguiu. Quando Nélio voltou a ter o esférico nos pés, viu uma nova oportunidade de concretizar. Avançou para a baliza. Fintou um, dois, três, jogadores da equipa adversária – sentia-se imparável. Subitamente, sem que se apercebesse, uma espécie de perna surge à sua frente, não lhe dando espaço para qualquer reacção. A bola e Nélio embrulharam-se com a perna desconhecida, de tal modo, que quando se quedaram, ninguém sabia o que era quem e quem era o quê. A testa doía-lhe sem fim. A sua visão afunilou-se e, à medida que perdia a consciência, tudo o que conseguia visualizar era céu e serra; o céu, a serra e a Lua, às cinco da tarde de um solarengo dia de Verão.


Quando acordou, encontrava-se na cama do hospital com a perna engessada e um enorme galo na testa. No entanto, nenhum desses achaques o parecia incomodar. Só um problema lhe causava insónias: como é que a Lua podia andar por ali quando ainda havia sol?


No dia em que regressou à escola, foi direito à biblioteca, apesar de um coro de protestos dos colegas que já tinham saudades dele, e o queriam para si. Porém, aquele problema não se esfumara, pelo contrário, simplesmente não conseguia pensar noutra coisa.


Leu e leu e leu… Aprendeu o que eram as fases da Lua, e percebeu que nada impedia a Lua de aparecer durante o dia. Mas a sua curiosidade não se ficou por aí. Esteve vários meses sem poder jogar, por isso, o seu tempo era ocupado com estrelas, galáxias, nebulosas, quasares e mais uma miríade de conceitos estranhos para os seus amigos.


Finalmente, tinha chegado a hora em que, após uma longa recuperação, podia jogar novamente. A adrenalina corria-lhe nas veias. Passaram-lhe a bola e Nélio avançou pelo campo. Contudo, ao observar o jogo à sua frente, algo estava diferente. No lugar de jogadores adversários, via buracos negros que deveria evitar. Contornou aqueles enormes buracos de gravidade com a mestria de um experiente raio de luz. Quando se aproximava da baliza uma cintura de asteróides impôs-se entre ele e o destino do cometa que guiava nos seus pés. Despedindo-se dele, rematou de trivela. O cometa subiu deslizando pelo vazio do espaço, com uma esplendorosa cauda criada pelos ventos solares. Pairou e rapidamente desceu directamente para o fundo da baliza, sem que nada o pudesse importunar – o astro chegara ao seu destino.


Foi a estrela do jogo. Tudo lhe correu na perfeição. No caminho para casa, o seu pai, que vira o jogo, afirmou em jeito de elogio:


- Quando fores grande, vais ser jogador de futebol!


- Jogador de futebol, eu!? - Retorquiu Nélio, mostrando-se espantado. - Eu quero é ser astronauta!