Memórias do Nunca - Parte 3
Outra vez
Estive contigo mais uma vez, mas já me parece distante. Continua a vontade de vingança... ou talvez da procura de um lugar melhor. O corpo pode estar cansado de tanta luta, simplesmente pode desejar repousar. Mas ainda não é altura. Não será altura enquanto tu não o quiseres. Tu... só tu... merda para isto tudo... sinto-me obcecado e parece-me impossível alterar esse estado. Quero esquecer-te, só que ao mesmo tempo não quero desistir da batalha. Aquela que travo comigo e a outra que travo contigo. Na primeira são autorizadas agressões, nem que seja pela simples vontade de libertar algumas energias, de me anestesiar com dor, seja de que tipo for. Na segunda a agressão directa determina o perdedor. Como é possível ganhar nessa situação? Engolir uma coisa atrás de outra sem o demonstrar? Tentei vários métodos, a honestidade sem dúvida que não resulta. Nem eu nem tu parecemos capazes de lidar com isso. Tento o outro método, a mentira. Por isso seguro a sua mão, começando com a desculpa do frio. Depois fazendo festas suaves, olhando-a nos olhos com um sorriso suave. Mesmo nessa altura não paro de pensar em ti, em como estou a fazer isto por nós, para que seja possível continuar. Poderá não ser vingança ou a procura de um lugar de repouso, simplesmente uma táctica de combate. Quero seguir contigo, ela pode ser uma solução. To make things even. Talvez seja isso... "talvez", como me irritam as minhas próprias dúvidas acerca de tudo e mais alguma coisa. Sem elas a vida era mais fácil... mas quem sabe? Certamente eu não... Ela toca-me na cara e desejo que se demore. Aqui sinto segurança, sinto um alívio da tensão que desde há muito vive comigo. Quero isto por mais tempo? Não... quero-te a ti. Só a ti. Esse é o problema. O animal quer-te e não tenho maneira de o fazer mudar de opinião. PORRA! MERDA! CARALHO! Puta... puta... não queria ter de estar aqui... Passo a mão pelo seu cabelo. Quero sentir os seus lábios, esquecer que existes, aliviar a dor. E como estou cansado desta dor, da ânsia de não saber. Encosto-me e bebo dois goles de cerveja, hoje não fumo, faz parte da estratégia. Não quero demonstrar fraquezas. Dependências classificam como tal e como as tenho... Só agora estás a descobrir isso, nunca me lembro de as ter escondido, no entanto nunca me devo ter exposto demasiado. Também nunca passei por isto. Eu próprio estou a aprender muito sobre mim, mais do que queria. Sinto como se a minha vida fosse uma sucessão de descobertas das minhas limitações físicas e mentais. Liberdades atrás de liberdades foram perdidas, ou melhor as ilusões de liberdade. As limitações sempre lá estiveram, simplesmente desconhecia-as. A ignorância dá felicidade. Nunca acreditei tanto na expressão, no entanto agora desejo a ignorância se essa me trouxer felicidade, mas tu não ma queres dar... porquê? Sinto-me a ceder. Era um pequeno favor que me fazias, no entanto não o posso pedir sob o risco de não acreditar nas tuas palavras, tenho que esperar que tenhas a iniciativa. A solução está como algo óbvio à minha frente, mas não a posso dar. Apenas era necessária uma pequena actuação da tua parte, mas aparentemente recusas-te. Merda para ti... Inclino-me para frente, esqueço tudo e por uns segundos sinto a pureza do seu beijo. Ela gosta de mim... Merda… Ela gosta de mim. Só agora me apercebo do mais óbvio. A minha obsessão fez com que me esquecesse dela. A culpa não é nada mais que minha.
2 Comments:
Já passei pelo mesmo. Não penses nisso. Não sejas refem do pensamento. Concentra-te no "agora". O agora é a única coisa que existe. O passado e o futuro não existem e pensar neles só trás ansiedade e angustia
Isto são textos com uns anos. Sinto que era incapaz de os escrever agora.
À semelhança de muitos outros que estão aqui tem inspiração em situações pelas quais passei, mas também têm muita ficção.
Leiam-nos por prazer ou simplesmente ignorem-nos. Só não os vejam como sendo algo puramente meu.
O que dizes não são factos que desconheça. As cicatrizes ficam sempre, mas são importantes. Há coisas que simplesmente não podemos ignorar sob pena de voltarmos a cometer os mesmos erros. É no entanto fundamental conseguir vê-las à distância para que o "animal" não nos bloqueie.
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