segunda-feira, abril 02, 2007

Memórias do Nunca - Parte 2

Começo

As horas passam e apenas penso em ti. Sinto o bafo a álcool e tabaco que ele emana... esqueço que existe e desejo-te ali. Estou só, mais que nunca, sem base, sem querer regressar ao sítio de onde parti, esta viagem é sem retorno, é absolutamente impossível voltar atrás. O caminho não se distingue, mas isso não me interessa minimamente. Queria-te aqui, mas apenas existe ele... alguém, não interessa quem. As lágrimas escorrem-me pela face, como te odeio... quero-te aqui... beijo-te, a minha mão desliza pelo teu corpo. Esqueço o bafo que ele tem e deixo-me cair em ti. Simplesmente quero um corpo perto de mim. Alguém que por breves momentos me faça esquecer a vida. Ir mais além, sentir a experiência... não é isso... ele és tu, o que eu preciso. A roupa cai-me do corpo e seguras-me nos teus braços. Só queria que fosses tu... só, absolutamente só... Foram horas a prolongar a noite, a tentar esquecer a marca de um ferro em brasa no corpo. Não consigo, mas tal não me impede de repetir o ensaio vezes sem conta. Deus? Estás aí? Esqueci-me de ti. Esqueceste-te de mim? Caralho para as tuas criações... Sinto-te dentro de mim, estás quente, nunca tínhamos feito isto. Quero-te aqui... parece-me obsessão. Tenho quase a certeza que é. Agarra-me, para que saias da minha mente. Porra... Como odeio a tua ausência. Vem-te... Vem-te... quero sentir o teu calor na minha pele. Ela, ele para que interessa isso, simplesmente o quero comigo. Não quero dormir e esperar que venha um novo dia, para quê? Um igual ao outro... Que merda! MERDA! Odeio-o! Afasta-te de mim! Chega! Não te quero aqui... desaparece com o meu ódio. Foi-se embora com o meu desejo. Porquê? Porque não o quero. Porque nunca o quis. Só te queria a ti? A monogamia instalou-se de um modo subtil que nunca desejei... Só queria um momento de esquecimento, nada mais. Ainda sinto o gosto do esperma dele nos meus lábios. Queria que fosse o meu nos teus. Mas por instantes o corpo dele era o teu, o cabelo dele lembrava o teu e os lábios nunca poderiam ser os dele... é só mais um dia aqui, não vou forçar a natureza, mas desejo que ela se mexa, estou farto de estar à espera do inevitável. Só mais um dia de dor e tormento… a aprender? Já não sei o que digo, o que penso, como ajo, a minha mente é uma espiral de pensamentos, contigo como centro. Estou esquecido de quem sou ou do que fui. Nada me prende, nada é meu, ninguém me segue, estou só na terra de ninguém. Egoísmo para além das medidas ter-me-ia feito bem. A noite segue sem paragens e o dia vem logo atrás. Passei a noite em claro, mas isso não impediu o sol de subir na continuação do seu ciclo. Tenho que agir? Mas eu só queria esquecer... merda... Quem era ele? Nem lhe sei o nome... E isso interessa? Eras tu, mais ninguém, e até de ti me esqueci. Memórias do que nunca aconteceu vagueiam por mim com a primeira luz que me bate na cara. Só queria que nada fosse como era, mas talvez a mudança tenha sido demais... tenho que esperar, aguentar... hoje é outro dia e nenhum pode ser igual, sou eu que os mudo sem sequer o perceber... Ainda estás aí? Mandei-te embora sem querer. Queria estar mais um pouco contigo, mas ele saiu e não vai voltar. Tenho que te procurar noutro lugar. Já não existes ali. Ele tomou conta do corpo que me alimentou. A nicotina dá-me sustento pela manhã, para quê mais se isto basta? Não quero carne. Detesto a que me envolve os ossos, odeio o meu corpo, odeio estar limitado por um estúpido pedaço de merda que me impede de ser livre... liberdade, que tenho e com a qual não sei o que fazer, já não a desejo assim tanto. Abdiquei dela sem o desejar, por ti, o animal pediu-me e como podia recusar, ele é mais do que eu... continua a ganhar...