terça-feira, março 03, 2009

Argila

Acordei sentindo o corpo entorpecido. Arrastei-me até ao espelho: a pele pálida e ressequida. Ao passar com os dedos pela face, a carne desfez-se qual pó lunar. A cada fechar e abrir de pálpebras, caíam pestanas. Revirei os olhos, queria olhar o interior. Tinha morrido. Ignorei o facto e saí para trabalhar. Os movimentos não eram meus, nem precisavam de o ser, os membros aprenderam-nos e repetiam-nos sem qualquer dúvida. Era fácil. Bastava não contrariar a matéria e tudo seria perfeito. A massa argilosa recebeu-me de braços abertos, permitindo-me a entrada no seu sexo, no interior do qual repousei. Só resta perguntar: Amava eu a perfeição?

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

E tanta gente a pensar que a perfeição reside, precisamente, nisto que um dia cai de podre e purulento...pois é, esperemos que haja uma "argila" escondida numa camada inferior; caso contrário, fica o nada.

22/11/09 21:28  

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