quinta-feira, abril 26, 2007

Memórias do Nunca - Parte 9

Esquecimento

A obsessão levou-me até ti. Longe de imaginar o meu fim. Inspiro o fumo contaminado e tento esquecer o que me passa pela cabeça. Viver a vida enquanto se tenta esquecê-la não faz sentido, mas quando gostamos verdadeiramente de alguém tornamo-nos capazes das coisas mais incríveis. Viver em esquecimento... a olhar o horizonte, a acreditar ser possível lá chegar. Mas fui o único a ter a miragem que tu criaste. Sempre foste incapaz de dar metade do que te dei. Sempre foste incapaz de ver além de ti. Os teus actos reflectidos começam e acabam numa única pessoa... tu. Pior que isso, não o reconheces. A incapacidade desse reconhecimento torna-se perigosa. Aparenta não ser o que é, mas constantemente faz o que não deve, por pura incapacidade. Sempre tive dificuldade em lidar com incapazes, mas estou loucamente apaixonado por uma. Tudo pela minha curiosidade em relação ao que não encaixa, ao que não faz sentido, ao que está fora do padrão... mas no fundo querendo que funcionem perto do que é normal. m....e....r....d....a.... A droga começa a surtir os seus efeitos. As questões não abandonam a minha mente, mas não têm a mesma importância. Talvez tenham agora o seu devido peso. Simplesmente não interessam. Sempre as mesmas coisas, avançando lentamente no raciocínio. Mais um passo, que tem peso de ouro, mas a escadaria parece interminável. É impossível ver o seu fim. Inspiro mais uma vez o fumo... travo......................................... esqueço-me de mim aqui. Pairo longe. Não sei onde. Queria-te explicar o problema dos teus modos de actuação... mas isso seria um acto altruísta da minha parte por alguém que não o merece. Por isso guardo tudo para mim, despejo-o em textos sem sentido que escrevo sob o efeito do esquecimento... mais uma vez, esquecimento. Sinto que passei vários meses a praticá-lo, mas por incrível que pareça continuo péssimo neste ponto. Concluo que não devo ter as qualidades necessárias ao aluno desta matéria. Talvez devesse ser calmo como aparento ser, talvez devesse ser capaz de parar o turbilhão que constantemente revolve dentro de mim, talvez devesse ser mais egocêntrico, talvez... talvez não devesse escrever tantas vezes “talvez” ou apagar constantemente a palavra “parece” dos meus textos. A nicotina alimenta-me mais uma vez o corpo disposto a terminar a sua viagem. É a mente que me empurra e me impede de parar. Nunca quis uma vida calma e normal. Sempre procurei algo mais. Só que essa vontade não é controlável. Quando me sinto igual sinto-me a morrer. Quero mais, sempre mais. Preciso constantemente de me procurar a mim próprio. De perceber aquilo de que sou capaz. Que o tédio morra, que o padrão desapareça, que o corpo não resista.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

...que o corpo não resista!

E eu que anseio sempre que o meu resista e resista e resista...a ser de outro corpo...a preencher outro, a fazer gozar outro...Que fazer quando o corpo já não nos pertence?! quando é mais pertença de outrém do que nosso?! a alma, essa cobarde, deixa o corpo entregar-se, quase sem luta...Como se recupera o corpo antes q o espírito também desvaneça?

26/4/07 19:43  

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