domingo, abril 15, 2007

Memórias do Nunca - Parte 6

De volta à solidão

Mais uma vez a paranóia ataca. Os remédios não abundam... o álcool e o tabaco não passam de remedeios. Nada em que se possa confiar. Até mesmo a escrita não é mais que isso... nada, absolutamente nada que conheça me pode trazer alguma cura. Por isso é necessário partir para o desconhecido. Claro que isso torna a realidade menos fiável, mas se ela não o foi até agora, o que recear? O dia arrasta-se, quero que o tempo passe, enquanto espero respostas. Supostamente virão de longe, de ti... acho que sei o que me vais dizer, o que me vais contar, mas agora não sei até que ponto serão verdade, até que ponto tudo não passa de ilusão. Fiquei marcado, só não sei o quão profundamente, mas creio que durará, só não sei até quando... merda... a procura dos meus limites vai acabar comigo, mais tarde ou mais cedo. Nunca me sinto bem onde estou e isso faz com que procure mais, mas essa procura trama-me sempre. Só espero um dia deixar de não sentir essa necessidade. Talvez aí possa realmente estar bem. Quero parar um pouco, mas sou incapaz... a televisão passa imbecilidades, felizmente, estou incapaz de ouvir gente com a mania que sabe, seja o que for, com ares de superior. Merdas, não passam de merdas. Mais merdas que os outros que se mantêm no silêncio. Do que aqueles que sabem esperar a sua vez e não necessitam de opinar sobre o nada com medo do vazio nas conversas, com medo do silêncio. Incomoda-te? O silêncio? Se isso fosse assim, acho que não querias nada comigo, o que acho não ser verdade. Funcionas à tua maneira e isso dá-me cabo do juízo, mas à tua maneira acho que gostas de mim. Infelizmente acho... já te o ouvi dizer, mais que uma vez, mas... Não sei... Tenho tido dúvidas demais sobre o que é gostar de alguém, amar alguém... seja o que for... ainda mais dúvidas que o normal, por isso me sinto a ser consumido por dentro, por isso não sou capaz de parar de escrever imbecilidades como aqueles que insulto. Não passo de mais um merdas que opina sobre o nada. Por vezes perguntava-me como era possível que alguém tivesse tanto a dizer sobre coisa nenhuma, mas pareço ter descoberto pelo menos como se faz, os motivos de cada um acho que ficam por descobrir. Afinal cada um funciona diferentemente e se não me percebo, como posso perceber os outros. Queria-te aqui ao meu lado... sentir o teu abraço, poder deitar-me junto a ti, sentir que podia descansar sem qualquer preocupação, com a cabeça vazia, esquecendo tudo e todos, reduzir a minha existência ao calor do teu corpo, ao toque da tua mão... nada mais. Respiro fundo... tudo isso está demasiado longe para que o possa sentir, tudo isso está demasiado distante para que o possa sequer imaginar com um mínimo de consistência. Quem sabe, um dia eu o possa sentir repetidamente, sem ansiar por esse momento. Tudo parece eterno em momentos como este... noutras alturas isso teria sido uma bênção, agora não o é. O momento é sufocante, não o desejo prolongar. A sanidade mantém-se, concentrando-me na ideia da passagem do tempo, na ideia de mudança que acompanha esse movimento. Um dia tudo será diferente... é só isso que desejo.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Cuidado com o que desejas...
"Importa que não haja ilusões sobre este ponto: é que todos podemos morrer de sede em pleno mar." (João Miguel Fernandes Jorge)

17/4/07 23:44  

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