quarta-feira, outubro 25, 2006

Reticências pautam a conversa de esferas que se completam. Esferas que rodam sobre o seu eixo, numa ordem cósmica. O caos perde-se e renasce promovendo essa ordem nova para olhares distantes. Olhares plenos de reticências, densas, contrariando o caos da consciência, polindo a sensibilidade esférica. A esfera ganha forma e evolui, a espiral é criada de fora para o infinito e o mundo abre-se-lhes. Os olhos sentem as suas órbitas rodarem sem direcção, repousando no infinito horizontal, onde o sol e a lua as acompanham num movimento de expansão. As linhas encontram-se e afastam-se oscilantemente com período incerto, mas no período correcto da intuição. A esfera pára, as seguintes repetem-na, as reticências unem-se, o silêncio consome o caos, a conversa une-se, a intuição abre-se para o todo. As dúvidas permanecem, mas com a força de quem as cria, a rotação mantém o interior da esfera sem quebras e rodeia-a numa procura de um prazer prolongado. Prazer intenso, interior, encontrado nas dúvidas, do centro espiral acidamente esférico, mas coberto pela força contrária. A estrutura que protege é amorfa, num método de desenvolver campos de vontade involuntária para a perseguição do que é desconhecido. Desconhecido calmo, horizontal, plano de neblina matinal entre o céu e o mais acima, onde se dilui o todo em nada, em sentimento presente de ausência corporal, ausência de procura por diluição total da forma. Vêem-se. Olham o que está ali. O que passou naquele turbilhão de ideias. Sonhos inacabados que vivem por nós. Nós, que desfazemos nós, que unimos reticências, que quebramos esferas cósmicas, que cativamos o caos até um sono profundo, onde os sonhos nos reflectem em ordens constantemente renovadas. Histórias vividas para crentes mudos na ânsia de ouvir gritos de calma do que ficou por vir, sabendo que o que virá é diferente do que será, tal como o que foi, foi diferente do que aconteceu, mas sempre crentes que acontece o próprio, o definido, incontornável, mudo, para que possamos recomeçar novos desejos. Pego no que é meu e sigo caminho. Não olho para trás, mas sinto-te comigo. Paro e ouço-te em mim, sem ti. O caminho empurra-me numa trilha paralela à tua, tendo por fundo o mesmo horizonte, e por frente a mesma esfera, ouvimos os nossos passos e é o bastante para prosseguirmos, nos sonhos da intuição, no caos das dúvidas vividas, na certeza dos prazeres que nos reserva o cosmos, ou mesmo no nosso centro, o eixo centrípeto do planeta onde vagueamos. Por tudo isto ergo o braço, os meus dedos movem-se com vontade própria, cada articulação tem uma alma própria, mas todas elas com um propósito único, tocar-te como se fosse a última vez. Registando em ti, tal como em mim o ADN das minhas fórmulas, o ADN dos teus sentidos, partilhando em corpos e astros uma carta de direcções válidas, tão livres quanto próximas, tão perdidas quanto iguais no tempo e espaço do mapa interior que sentimos comum. Constrói em mim alvoradas de mundos novos, tempos esquecidos pela inexistência, realidades regurgitadas pelos deuses, a morte de certezas sem vida, nada em troca, apenas uma entrega egoísta. Dou-te uma certeza: as certezas são mortes vivas; as alvoradas são trocas onde cada um se entrega; o egoísmo é respeito; o esquecimento é inexistência e respeito pelo tempo que os deuses aconselham para a hora de regurgitar as realidades que impedem de revisitares os tempos que sempre existiram e sempre farão o mapa por ti aceite antes de te conheceres.

Este texto foi uma colaboração que se prolongou pela noite dentro.
Abraça o Duo que há em ti!

domingo, outubro 22, 2006

Fujo de mim... não me quero sentir aqui. O teu horizonte vagueia sem direcção. Fica aí. Não te aproximes. Queres-me assim? Segue-me. Vamos caminhar neste trilho ausente de esperança. Repleto de ilusão. Por onde ninguém passou. Por onde nunca passarão. Gente a quem o esquecimento cortou asas de anjos negros na fragilidade do tecido temporal. Juntos e sós. Ela e a regressão. Podemos parar. Voltamos para trás? As estrelas penetram-te, impossível dizer que não. Não nos movemos. O mundo passa por nós. As faces seguem-nos. Nada. Respondo-me por ti. O que mais foi? Guarda o monte Gelo, segue a escuridão. Linhas nascem atrás de mim. Luz implacável. Nuvens de concreto a roçar o sem nexo. Jamais tornará a brotar tormentos indagáveis. Guarda imagens de suor, não as quero para mim. Vemo-nos por aí? Sem qualquer valor? Sou eu que canto murmúrios do futuro que chamo para mim. Um movimento de queda perpétua, forjada como o mais belo dos presentes, de ti para mim. Um homem à nossa frente. Simples e decidido. A sua morte é certa na vulgaridade. Guarda esse olhar para ti... Não te quero aqui.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Estou junto ao precipício. A sua voz enche-me a alma. Não deixa lugar a qualquer outra expressão. Apenas uma rota se desenha à minha frente. A falta de sentido torna-se absurda aqui. Sinto a brisa na face. Ouço o mar ao longe. O apelo é insuportável. Leva-me contigo para longe de mim. A lâmina penetra-me a carne. A pele abre-se num desejo de a sentir. O sangue pulsa sem mim. A cor da dor domina-me. Tudo o resto não passa de um vazio branco. Quero-te uma última vez. Mergulhar nos teus olhos. Estar contigo como se não fosse eu. Não querias ver a minha morte?

domingo, outubro 15, 2006

O teu corpo oferece-se ao meu. Repetindo o que jamais voltará a acontecer. O teu cheiro invade-me sem qualquer tipo de existência. As tuas palavras, que não ouço, convidam-me languidamente. O meu ódio obriga-me a mais uma tentativa de destruição, tua e minha, não te deixo só neste fim. À deriva entre sonhos já vividos, revoltando a carne que teima em continuar, perco o sentido do uno, do ser que estaria para vir. A procura de padrões iludiu-me. O ego cegou-me. O meu ser impediu-me de ser mais, de ver mais além. Os olhos abrem-se e está tudo ali. Só faltava esse último esforço. Mas era um movimento que nunca quis. Afinal a ilusão tem sempre outro paladar.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Mais uma vez perco o olhar que me hipnotiza. Passa à minha frente. Uma sequência de explosões perdidas seguem-se em mim. A carcaça mantém-se intacta. As paredes caem num movimento perpétuo, o abismo não tem fim. Ninguém vê, ninguém olha. Ninguém quer ver, nem olhar. Passa pela nossa ausência esta falta de sentido. Repete-se na minha mente vezes sem fim. O corpo quer recusar, mas não tem opção. Liberta-me... derruba o que me envolve. Só mais um esforço e estou aí. Falta pouco para a queda. Mas continua ali. Sem qualquer reacção. Nada acontece. Deixa-te cair, deixa-me ir. Outros planos perdidos deste universo, esperam por mim. Só que ele acaba já aqui.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Quero cair… sentir os dedos frios da morte a rasgarem-me a carne, penetrar-me as entranhas, acariciarem-me o coração para o esmagar de seguida. Quero ver o meu sangue correr a seus pés. Ouvir o seu riso doentio como um sussurro prolongado e esquecido em mim. Esfacela-me! Faz-me arder! Tortura-me numa última tentativa de me fazer viver...

sábado, outubro 07, 2006

We could go wrong... Just let it be. Life is to be felt in an uninspiring way, to be passed by with no second thoughts. Listen to the distant echo behind the running blood in our veins. Answer its call. Simply lie back and see it fading away. Pretend your death and feel the joy of playing dead. What you wish is no longer a care, now it’s just a distant memory. Aren’t you happy with the emptiness inside?

segunda-feira, outubro 02, 2006

Ouço-te sem responder. Não posso repetir. As tuas palavras tornam-se desagradavelmente únicas. O teu silêncio reconhece-o. Inspiro o fumo contaminado numa tentativa de me abstrair, mas é impossível. Em vez disso o que está em mim transpõe as fronteiras do meu ser. A chuva já não cai apenas no interior. Continuas à espera de qualquer reacção. O som da tua respiração é irregular. O silêncio continua e sem dizeres qualquer palavra segues o teu caminho. Sementes de sonhos brancos repousam na minha mão. A chuva desaparece. Com ela o meu mundo e tudo perde o seu valor.