sexta-feira, setembro 29, 2006

A mundo repete-se vezes sem conta num tormento que o meu corpo não quer admitir. Toca-se de novo, mas, numa perspectiva humana, irremediavelmente nos mesmos pontos. Sinto-me cansado de tudo. A novidade teve a morte anunciada há muito, apesar de nada o fazer crer. O olhar vago não é mais que um reflexo dessa sensação. Apenas contamos com os nossos dedos e, por isso, tudo acaba depressa.

terça-feira, setembro 26, 2006

Hoje ela lembrou-se de ti. Ligou-me. A voz era trémula, hesitante. Não era comigo que queria falar. A ansiedade de saber fosse o que fosse sobre ti obrigou-a a isso. Foi directa ao assunto... tu. Presente, em ti, através de mim. A conversa parecia banal para quem a ouvisse. Só nós sabíamos tudo o que estava por trás. As palavras trocadas criaram-te do vazio que vivia connosco. Finalmente perguntei como estavam as coisas com ela e ela desabafou... talvez como o fizesse contigo. Provavelmente de uma maneira menos profunda. O número era anónimo, a necessidade do teu vazio era maior. Tentou libertar-se num gesto contido e de algum modo egoísta. Não há mudanças neste plano. O que foi será... o que está para vir surgirá. No entanto a espera é dolorosa. Queria lhe dar conforto. Insuficiente no meu conteúdo não fui capaz de mais. O momento não era certo para mim. O mundo girava em meu redor incessantemente. Não queria falar do que era meu. Foi inevitável. No entanto o tom continuava como que o de uma conversa de ocasião. Mentimo-nos numa busca de suavizar as nossas ausências... Disse-lhe adeus, pedi-lhe para ter força e a sua voz desapareceu. Não a posso contactar. Apenas posso esperar que a sua necessidade de busca regresse. Eu, tu e ela... nós sempre sós.

segunda-feira, setembro 25, 2006

O ar rodeia-me em lunares vozes diurnas. Plano. Voo acima de todas as coisas. O vento afaga-me o cabelo. Abro os braços pronto para a crucificação sem que ela se aproxime. Mergulho fundo na mãe Terra. O seu calor aconchega-me. Engole-me. Esconde-me. Faz-me perder em mim. Outros passeiam-se ao meu lado, mas nenhum deles se sente perturbado pela minha presença. Soa a algo estranho, este mundo incandescente. Deixo-me cair um pouco mais e sou arrastado para o cerne de Tudo. Só que aqui não há frio, não há calor, não há dor nem paz... Aqui a vida não passa, a morte não chega, o momento arrasta-se pela eternidade sem tédio ou entusiasmo... Aqui, no centro de Tudo, apenas habita o Nada, unicamente o Nada.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Cinco... ou mais? Não me recordo... Talvez sete ou oito... Mas sempre igual. O mesmo ritmo de morte. A mesma tempestade de calor. O corpo corre longe de mim. Neste frágil gueto de isolamento animal. Sobe e desce... Sempre igual. A morte caminha só. A meu lado. Sempre igual. Fluidos misturam-se em antecipação do fim inevitável. Saliva... suor... carne... Sempre igual. Entra e sai. De mim para mim. Só eu. A morte ergue-se junto ao monte. Olimpo ou Sião... A quem interessa? Deixa o paganismo percorrer a mente. Sempre igual. Imagens... e mais imagens... Sempre as mesmas... retarda... apaga... deixa-te ir. Pontes caem atrás de mim. Continua. Desliza junto a mim. A morte afaga-me lascivamente. Da mesma maneira. O ritual funde-nos. Toca-me. Sou eu que estou aqui. Esqueceste-te? Só eu. Sempre igual a mim mesmo nesta infindável dor de não saber o que vive aqui. Paro junto à linha apenas para a ver desaparecer. Surjo mais atrás sem perceber o movimento apesar da sua repetição... sempre igual, mas irreconhecível. Corre... anda... rodeia...anda... corre... fere... MATA!

terça-feira, setembro 12, 2006

Um dia vazio de tudo e todos. Por aqui como se não existisse. Tentado a sentir a morte mais de perto. Perdido numa encruzilhada onde só existem becos sem saída. Sento-me e espero que o que está ao meu redor mude. Que qualquer tipo de metamorfose altere aquela que parece ser a minha realidade. Mas os mortos continuam enterrados... os vivos continuam por aí à espera da sua vez. Deixo-me planar numa procura de um Deus que se esqueceu de mim e, claro, tudo permanece igual. Centro-me no que está dentro de mim. Sinto as formas amorfas que por aqui habitam. Nenhuma encaixa noutra. Mas elas flúem em correntes dispersas sem o propósito único de um rio. Abro os olhos e a encruzilhada deu lugar a uma floresta. Um velho passeia-se, mas ele faz mais do que esperar. Ele vive cada passada parecendo sentir o chão e toda a natureza que povoa este sítio. O velho conhece-me. Ele sorri. Quem és tu? Mas ele não responde. Ele simplesmente pára e observa-me. O velho vai desaparecendo e no seu lugar surge uma árvore. Mais uma. Esta será a maior, a mais corpulenta, a mais sábia. Mas a seu tempo. Todas as outras recebem-na com uma ligeira agitação do que eu diria ser uma alegria de algo há muito esperado, mas que sabiam inevitável. Eu pertenço a este sítio. Aqui toda a falta de lógica tem um padrão que não tenho de procurar. Apenas estive ausente, mas regressei a casa.

sábado, setembro 02, 2006

Ask her to phone you on this long cold night. The winter is coming for all who are here. This strange land is consuming my heart. I wake willing to sleep all day long. Call just once. Don’t wait for my senseless words. Speak till I’m gone. Don’t wish anything from my empty silence. Speak like I was a long lost lover that you wanted lying by your side. Forget the keys at my place. But never expect me to go to you. Just let your words flow from your soul. I’ll let them come whispering into my ears. The breeze is filling my lungs with the warmth from your voice. I taste your music calming the anxious boy that lives within. Look far away to the deep bottom of the ocean. Do you see? Travel to the moon to walk in it’s vast grey desert. Do you hear? Put your head between your gentle hands. Do you feel? Simply fallen from high clouds. I need to feel your breath in this short warm day. Once more. In a never ending spiral of you.