Hoje ela lembrou-se de ti. Ligou-me. A voz era trémula, hesitante. Não era comigo que queria falar. A ansiedade de saber fosse o que fosse sobre ti obrigou-a a isso. Foi directa ao assunto... tu. Presente, em ti, através de mim. A conversa parecia banal para quem a ouvisse. Só nós sabíamos tudo o que estava por trás. As palavras trocadas criaram-te do vazio que vivia connosco. Finalmente perguntei como estavam as coisas com ela e ela desabafou... talvez como o fizesse contigo. Provavelmente de uma maneira menos profunda. O número era anónimo, a necessidade do teu vazio era maior. Tentou libertar-se num gesto contido e de algum modo egoísta. Não há mudanças neste plano. O que foi será... o que está para vir surgirá. No entanto a espera é dolorosa. Queria lhe dar conforto. Insuficiente no meu conteúdo não fui capaz de mais. O momento não era certo para mim. O mundo girava em meu redor incessantemente. Não queria falar do que era meu. Foi inevitável. No entanto o tom continuava como que o de uma conversa de ocasião. Mentimo-nos numa busca de suavizar as nossas ausências... Disse-lhe adeus, pedi-lhe para ter força e a sua voz desapareceu. Não a posso contactar. Apenas posso esperar que a sua necessidade de busca regresse. Eu, tu e ela... nós sempre sós.
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