Mais uma vez.... Mais uma vez estou aqui sentado a olhar para estes textos, quando já os julgava esquecidos. A estabilidade existiu algum tempo e cheguei mesmo a acreditar nela. Preferia que nada existisse no meu isolamento. Talvez o tempo passasse mais facilmente. Se tudo parasse na minha ausência, seria fácil regressar. As pessoas as mesmas, o olhar o mesmo, a alegria contagiante ainda lá estaria. Mas tudo se apaga com o tempo, tudo se dissipa à sua passagem. Queria esquecer-me de ti, queria que te esquecesses de mim, até que estivéssemos juntos outra vez. Foste tu que cometeste o erro de o tentar... o esquecimento. Foi impossível para mim. Incapaz, ciente, estúpido, macho, roto, qual foi o meu problema?... E aqui está ela, mais uma questão que não percebo... Como odeio tudo isto. Gente sem horizontes, que não se apercebe das palas que têm nos olhos. Gente que nunca tentou pensar, com mania que tanta coisa é óbvia, querendo fazer parte do rebanho, achando que se podem diferenciar. Merda para eles! Nunca quis atribuir culpas a outros que não eu, mas às vezes a tarefa parece titânica. Gente que se acha melhor que um animal, mas são iguais a eles porque não reconhecem a merda do animal que está lá dentro. Tenho saudades de te ver... falar contigo... estar contigo... sei do caralho do animal que está cá dentro. Passo a vida a convencê-lo de que a carne tem de se submeter à minha vontade e por vezes resulta, ele esquece-se que tem de submeter todos os sentidos a ti. Sabes disso? Lembras-te do teu animal? Às vezes acho que te esqueces... Mas eu também o faço. Os erros não foram meus, os que cometi, foi por... não... foram meus e apenas meus, mas sempre na busca de algo melhor, para mim, para nós, para alguém que quisesse procurar outros modos de vida. Do que sou capaz? Agora um pouco menos... a minha camada exterior enrijeceu, entra pouco, sai menos ainda, bloqueei parte do que me feria, apenas parte... mas foi o suficiente para perceber melhor os meus limites e perceber que mesmo aqui é possível superá-los. Esquecer, abandonar, olvidar, apagar... sem que tal me afecte. Seria mesmo necessário? Sinto-me mais forte, mas não sei se isso me trará benefícios. Forte para não sentir? Isso não será deixar de viver?... Perder a inocência, deixar de acreditar... só queria voltar a acreditar, mas... já sobrevivi a tanto, porque não mais um pouco. Ganhar mais camadas. Até que me torne impenetrável. Eu e apenas eu. Nesse momento nada disto me interessa, estarei pronto para partir, talvez finalmente encontrar alguma paz, que não seja apatia. Não quero voltar a ser um espectador, já tive anos que me chegassem de filmes sem interesse. A morte está perdida algures no meu desejo pelo Deus que fiz questão de matar, de esquartejar e por fim comer-lhe as entranhas. Seria mais fácil de superar se Ele ainda existisse. A fronteira com o exterior não se tinha adensado da mesma maneira, no entanto quando apenas se pode contar connosco próprios a única solução, para pelo menos sobreviver, é criar defesas. Porque a perda da crença, da confiança, a verdadeira perda da inocência tem um preço muito caro. Um preço que sempre me senti disposto a pagar, apesar de desconhecer o seu valor. Atirei-me de cabeça achando que nunca iria ser de tão alto. Porquê tudo isto, se Deus não existe, se não há nada que nos prove haver um sentido para a vida? Será o ponto alto de uma civilização o seu suicídio? Quando se apercebe que o único motivo da sua existência é dar continuidade à espécie sem nada de mais, que outro caminho faz sentido? As emoções e sensações derivam do animal, para se ser superior a ele, para o dominar ficamos sem nada que nos faça continuar. O animal, mantém-me vivo apesar da falta de Deus. Quando me for impossível viver sem o animal, quero morrer.