Abstracção
Estou sentado numa prateleira. Fui eu que me pus lá. Estava a ter dificuldades para me manter em pé. O cansaço era demasiado. As pessoas passam por mim. Algumas olham como se eu estivesse lá. Penso que até houvesse quem falasse, mas não podia ser para mim. É uma pausa que se arrasta por tempo demais. O meu corpo está entre as gentes que por ali andam, mas eu não. Quanto mais tempo passa maior a desconexão. Com sorte, em breve, poderei olhar para mim como um estranho. Não passarei de um espectador. O estado supremo. A excelência do nada. No entanto, há sempre alguém que me impede de completar o percurso, que me trás de volta. Talvez um dia chegue ao fim e atinja a abstracção absoluta.