Memórias do Nunca - Parte 13
Movo o diafragma numa tentativa de continuar... não sei bem o quê... não sei bem quem... o peito move-se... mas o coração parece ter parado... inspiro mas o meu corpo recusa-se a respirar... sinto o pulsar nas têmporas... o relógio a cessar o movimento... expiro... expiro... nada sai... expiro... apenas o fumo me apodrece num delicioso morrer... o ventre volta a elevar-se esquecendo de me avisar... ar... só preciso de ar... mas os fluidos negros continuam a entrar... aqui esquece... esquece... questiona... pergunta... interroga.... uma e outra vez nestas raras vezes que no vemos... onde tens andado?... volto a expelir o que lá está... estaco com o vazio ali preso... como sabe bem não ter nada ali... como gosto de parar o mundo... não é mais que isso... é o assim mesmo... sem qualquer movimento... matéria em decomposição para êxtase do paciente... vulgar e obsessivo neste lento salto para o precipício onde a pedra jaz... enquanto caio abro as válvulas do meu ser... tenho esperança do combustível simplesmente entrar... como se flutuasse sem me ver por aí... quero... AR!... submissão sem dono de quem manda... tudo para ti... sem mim... escravidão da existência negada por homens há muito mortos... sonhos de quem marcha ao descobrir o que reina aqui... continuo a insistir... esmurro o peito... AR! AR!... outra pancada seca... AR! AR! AR!.... AR! AR! AR!... o coração começa a bater... AR!... a luz entra novamente... o estrondo vindo do interior... bate novamente e atormenta-me... não consigo descansar... expiro... inspiro... expiro... inspiro... o tempo segue o seu percurso... as formas ganham vida... os membros acordam... cego da intensidade criada... morre! Morre mais uma vez... para que queres tu estar aqui?... expira! Expira sem fim... deixa tudo! Pára de caminhar... para quê?... uma e outra vez tentas a tua morte... eu tornei-me em ti... tu és o que eu sou... EXPIRA! Liberta a morte que vivi em mim... não... não me obedece... inspiro... expiro... inspiro... expiro... inspiro... expiro e continuo a morrer ao ritmo da eternidade do Universo que sente os ciclos de todas as suas estrelas.... inspiro... expiro... inspiro... expiro... e tudo continua para sempre assim...
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