sábado, janeiro 13, 2007

Horas e mais horas passam, o branco é a única coisa que vejo, que sinto, que ouço. Tudo é branco, tudo está branco. Dezenas de pontos brancos observam-me sobre este fundo branco pálido. Batas brancas cercam-me sem que a fuga seja possível. Comprimidos nos mais diversos tons de branco organizam-se em fila para me alimentar. Deslocam-se num chão branco arrastando pó da mesma cor. Fazem festa por cada um que desaparece. Nada mais querem do que ser parte de mim. Tudo fica nublado os tons mudam suavemente para cinzento. Como é agradável essa apatia. Esboço um sorriso. Fatos cinza observam-me sabendo que nada lhes pode acontecer. Sentem-se satisfeitos pela sua aparente segurança. Peças de metal cravam-se-me no crânio. Os bloqueios são absolutamente necessários, não podem permitir a reprodução das visões. A ordem tem de ser mantida. A minha cabeça está repousada sobre o colo de um deles que me segura numa atitude de piedade. Tudo se passa em câmara lenta. Olho para o meu braço, uma seringa desliza até lá e penetra-me a carne. Injecta-me cinzento. Apago-me para voltar a abrir os olhos, mas não controlo nada. O mundo passa-me ao lado. Sou apenas mais um. Morri.