Estavas sentada. Olhavas através de mim. Ausente. Suportando o mundo da tua realidade, sem forças. Concentrei-me na dilatação das tuas retinas. Afundei-me em ti. Do nada surgiu-me o negro do teu ser. Quente, solitário, amargo, doce, gentil... errante. Onde está tudo o que falta aqui? Sais dali. Caminhas para a casa de banho. A tua cabeça baixa. Que tudo o resto não exista. Sigo-te nos reflexos pálidos da luz dos holofotes. Desapareces. A empregada observa-me. Aproxima-se e segreda-me ao ouvido. As palavras esgotam-se em si. Respondo afirmativamente. Levanto-me e vou atrás de ti. Com um passo lento. Encontro-te a vomitar no lavatório. Toco-te ao de leve nas costas. Ignoras-me. As luzes apagam-se. Respiras fundo e endireitas-te. Estás de frente para o espelho. A Lua não te ilumina a face. Abraço-te. Seguras-me na mão e levas-me contigo para ao pé da janela. Beijas-me pela última vez, intensamente. O teu corpo pressiona o meu. Num rasgo eterno o metal toca-me no cabelo, desliza por ele, entra na pele, estilhaça o crânio e aos poucos leva-me para longe de ti e de mim.
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