Câmara Escura
Sentei-me no escuro, num canto da casa. Fiquei ali horas a fio. Detesto a luz. O corpo enterrou-se entre as duas paredes, fundi-me com o betão. As criaturas, que dizem apenas estar na minha mente, puderam sair. Eram semelhantes a pequenos ratos sem pele, mas luziam como pequenas lanternas negras. Agruparam-se à minha frente. Observaram-me sem timidez. Mil olhos penetraram-me com a facilidade de mil seringas. Caí na hipnose provocada por esses seres. Vi mundos sem cor, entes a vaguear pelo espaço, vazios cheios de nada. Quando saí daquele estado, eles já lá não estavam. O Sol tinha nascido. Continuei sentado a tremer de medo. Não quero descobrir mais, não quero saber mais, mas sou incapaz de resistir. Por isso nada faço, simplesmente espero que a noite regresse e com ela uma percepção cada vez maior da nossa finitude.
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